"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Em Audiência Pública, Novelis afirma que fechamento de unidade é irreversível

Matéria disponível no site da ALMG, em 05/11/2014

Audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira ,5, em Ouro Preto, para debater o fechamento da unidade local de alumínio primário. Foto: Willian Dias/ ALMG

“A decisão é dura, difícil e grave. Nós entendemos a importância da empresa para a história do município, mas é uma decisão irreversível, fruto de uma crise que não é exclusiva da Novelis”, afirmou o assessor da diretoria da empresa, Ricardo Carneiro. Ele participou de audiência pública da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Ação Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quarta-feira (5/11/14), em Ouro Preto (Região Central do Estado), para debater o fechamento da unidade local de alumínio primário. Instalada desde a década de 1950 na cidade, a decisão da empresa de encerrar suas atividades até dezembro deste ano representará o fechamento de 350 postos de trabalho diretos e o fim da produção de 18 mil toneladas por ano de tarugos (peças metálicas).

Segundo Ricardo Carneiro, a decisão da Novelis partiu de uma crise mundial do alumínio primário que vem ocorrendo desde 2008, com redução do preço em dólar do metal, inviabilizando a planta em vários países. De acordo com ele, em 2008, o Brasil produziu 1,6 milhão de tonelada de alumínio primário e este ano a estimativa é que essa produção seja de cerca de 950 mil toneladas. “O Brasil passou de exportador de alumínio primário para importador”, disse Ricardo Carneiro.

Por essas razões, o assessor da diretoria da Novelis justificou a decisão da empresa e afirmou que está à disposição para dar as respostas que a comunidade e autoridades precisam. Disse ainda que a Novelis fez um esforço ao longo dos últimos anos para manter suas operações e empregos na unidade de Ouro Preto. “Uma das ações foi a concentração da operação da fábrica na produção de tarugo, abandonando a produção de placas”, disse.

Segundo Ricardo Carneiro, a empresa tem saúde financeira para manter suas obrigações   Foto: Willian Dias/ ALMG
 Ricardo Carneiro reconheceu ainda que a Novelis possui passivos ambientais, que estão sendo identificados, e que irá apresentar um plano de mediação, com cronogramas de execução e análise de risco dessas áreas. Também afirmou que a Novelis tem saúde financeira para manter seus encargos e obrigações, principalmente as relativas às medidas ambientais.

Em contraponto à posição da empresa, o diretor de Política Sindical do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Julião, Roberto Wagner Carvalho, disse que desde 2009 tem chamado a empresa para conversar e que, quando ela afirma que a decisão de fechamento da unidade é irreversível, mostra que realmente não está disposta a conversar. O sindicalista também questionou o fato de a Novelis explorar a região e depois ir embora, e convocou os trabalhadores a lutar para que a fábrica não feche. “Temos que cobrar a responsabilidade social dessa empresa”, afirmou Roberto.

Segundo ele, o trabalhador quer a continuidade da produção e está disposto a trabalhar. Roberto Carvalho afirmou ainda que a unidade de Ouro Preto é viável e obtém lucros. Nesse sentido, o autor do requerimento para o debate, Celinho do Sinttrocel (PCdoB), ponderou que a afirmação da empresa de que a decisão é irreversível é muito pesada e grave. Por isso, fez um apelo para que a Novelis se sensibilize a debater e negociar essa decisão.

Participantes cobram intervenção do Estado e da União

Presente na reunião, o coordenador-geral das Indústrias Intensivas em Recursos Naturais do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Tólio Edeo Ribeiro, disse que, em virtude da decisão da Novelis, o órgão está disposto a abrir canais de diálogo para que esses empregos permaneçam na região, que tem vocação para a metalurgia. Em sua opinião, é preciso buscar formas de manter o emprego dessas pessoas, como novos empreendimentos, que irão absorver essa mão-de-obra qualificada.

No entanto, o assessor de Formação e Política da Federação Sindical e Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Minas Gerais, Geraldo de Araújo Silva, disse que o cenário não é positivo na região, principalmente porque nada da riqueza produzida fica no Brasil, nem minério nem dinheiro. “Fica doença respiratória e buraco. Só esse ano morreram 25 trabalhadores na mineração”, disse.

Geraldo de Araújo se mostrou preocupado ao dizer ainda que o fechamento da Novelis vai atingir também 600 trabalhadores terceirizados. Segundo ele, a empresa tem lucro e o que a Novelis tem feito é especular e vender energia excedente por meio das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). “Quem deu o direito da Novelis de vender as PCHs? Era para produzir alumínio, e não vender para o mercado”, criticou Geraldo de Araújo Silva.

Em sua opinião, os governos estadual e federal precisam intervir, não podem ficar vendo postos de trabalho sendo fechados, principalmente dos oriundos de empresas que utilizaram dinheiro público. “Duvido que a empresa é deficitária. Ela não tem custo de energia, é autosuficiente”, ponderou.

Deputado Celinho do Sinttrocel (PC do B) e o Representante do Ministério da Indústria e Comércio - Foto: Willian Dias/ ALMG
O deputado Celinho do Sinttrocel também afirmou que denunciou, nos últimos quatro anos, a intenção da Novelis de fechar sua unidade em Ouro Preto. Ele disse ainda que uma fábrica não pode ser fechada pensando apenas em seus interesses, que é preciso olhar para a sociedade e os trabalhadores. Em sua opinião, o problema não pode ser tratado apenas pelo ângulo da empresa, e o Governo de Minas precisa agir para combater o desemprego e o desaquecimento da economia local. O parlamentar salientou ainda que a empresa precisa se preocupar com o passivo ambiental e resolver as pendências trabalhistas e fiscais com o Estado.

Veja a íntegra da audiência (atualizado em 19/01/2015):

 

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