"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Com queda de 27% na produção, país se torna importador de alumínio



Por Olivia Alonso e Ivo Ribeiro | De São Paulo
quarta-feira, 17 de setembro de 2014 - Valor Econômico  

O que antes era uma projeção extremamente negativa agora se torna realidade na indústria do alumínio no Brasil. Há pelo menos seis anos, quando fabricantes do metal começaram a fechar suas portas no país, o setor começou a temer uma forte contração de suas operações, o que poderia transformar o Brasil de um dos principais exportadores globais de alumínio em um mercado dependente do produto externo.

Com preço baixo do metal e o alto custo da energia, essas previsões se confirmam. Assim, o ano de 2014 marcará o momento em que o Brasil se torna importador líquido do metal. A projeção é de 130 mil toneladas de saldo negativo na balança comercial de metal primário, segundo a Associação Brasileira do Alumínio (Abal). O número é o resultado de importações de 442 mil toneladas - 2,6 vezes o volume de 2013 - e exportações de 311 mil toneladas, basicamente para o Japão.

Sem a adoção de medidas que deem ganho de competitividade à indústria, como tarifa de energia no patamar mundial, o país poderá ter déficit de 1,558 milhão de toneladas de alumínio primário em 2025, diz a Abal. Considerando o preço atual do metal, são US$ 3,1 bilhões de divisas que o país teria de desembolsar a cada ano.

A Abal estima que o setor deixará de criar 47 mil empregos e de fazer investimentos de R$ 19,8 bilhões no acumulado dos próximos dez anos. Anualmente, deixará de arrecadar R$ 450 milhões em impostos.

Desde 2008, tomaram a decisão de fechar fornos de alumínio no país Valesul (em Santa Cruz-RJ), Novelis (a linha de Aratu-BA e parte de Ouro Preto-MG), Alcoa (toda a fábrica de Poços de Caldas-MG), Alcoa e BHP Billiton (63% da Alumar, em São Luís-MA) e Votorantim Metais - CBA, em Alumínio-SP (ao menos 20% da capacidade).

Neste ano, o retrato da indústria mostrará produção inferior a 1 milhão de toneladas de alumínio primário pela primeira vez em 24 anos - em 1990, foram 931 mil toneladas. Ou seja, um retorno ao patamar de 1991. O Brasil vai terminar o ano com produção de 952 mil toneladas, prevê a Abal, queda de 27% em relação a 2013 (1,3 milhão de toneladas).

A situação tende a piorar nos próximos anos, diz Milton Rego, presidente da Abal. Conforme as fabricantes tiverem concessões e contratos antigos de energia expirados, os custos ficarão mais altos e a tendência é de que parem mais linhas. O país pode chegar a 2025 com volume de apenas 660 mil toneladas ao ano (55 mil ao mês), diz a Abal, ante uma capacidade atual de 1,5 milhão de toneladas (125 mil mensais). Hoje, a utilização do setor é de 70 mil toneladas/mês.

"Temos produção competitiva de alumina e bauxita. Está na hora de o Brasil decidir se quer ou não manter sua indústria do alumínio primário", afirmou Rego ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. "Os outros países dos Brics optaram em ter. Mas, não estamos neste caminho".

Na projeção da Abal, sem medidas, o Brasil vai regredir mais e chegar a 2025 com uma produção de 660 mil toneladas. Ele aponta que um ponto é crucial para o setor no país - o custo da energia. O insumo usado na transformação de alumina em metal primário responde por 55% dos custos totais das empresas, muito acima dos 34% de dez anos atrás. Segundo o presidente da Abal, a autogeração de energia é capaz de suprir 40% da produção, o equivalente a 381 mil toneladas. Sem viabilidade para produção do alumínio, as companhias com energia própria e contratada têm vendido o excedente no mercado livre.

Rego afirma, porém, que as companhias só podem retirar para uso próprio, ao preço de custo, cerca de 10% da energia que elas geram. A maior parte do suprimento precisam adquirir no mercado. O custo, diz, era de US$ 61,2 por MWh no ano passado, mais do que o dobro do valor de 2001.

A situação se complica para as produtoras com um preço deprimido do alumínio no mundo, na faixa de US$ 2 mil a tonelada. É o mesmo patamar de 30 anos atrás, ainda que em alguns momentos tenha dado uma escalada, como os US$ 2,7 mil em 2011.

Enquanto isso, cotações de outras commodities metálicas chegaram a triplicar. A principal razão para o preço estagnado do alumínio é a alta acelerada da produção chinesa. De 4 milhões de toneladas anuais há uma década, a China saltou para 22 milhões de toneladas em 2013, segundo a The Aluminum Association, entidade mundial. E passou a inundar o mercado. "Apesar de ter um alto custo de energia, tem estímulos à produção e à exportação", diz Rego. Para especialistas do setor, com os custos em níveis razoáveis, o preço do alumínio que justificaria investimentos em aumento de produção seria de US$ 2.400 por tonelada.

Do lado da demanda brasileira, apesar de 2014 não mostrar crescimento, a Abal estima um crescimento médio anual de 5% no consumo na próxima década. Neste ano, o nível será o mesmo do ano passado, de 1,5 milhão de toneladas em produtos transformados - usos em embalagens, veículos, construção civil, bens de consumo, máquinas e outras aplicações. Para 2025, a projeção é de 3,2 milhões de toneladas.

Além do enxugamento da indústria de alumínio primário, esse cenário, observa Rego, põe em risco as companhias locais de transformação de alumínio. "Com o aumento da importação do metal primário, a tendência natural é de crescimento também das compras do produto acabados, de maior valor agregado, no exterior". Neste ano, as importações de transformados vão ser 12,1% do total do consumo doméstico, acima dos 10,8% do ano passado, diz a Abal.

Em defesa do setor, a associação apresentará, nos próximos dias, esses números aos presidenciáveis e a candidatos aos governos de São Paulo, Minas Gerais e Pará. As sugestões de política industrial incluem aumento da permissão do uso de energia autogerada pelas alumineiras; políticas de defesa comercial; exigência de conteúdo local em compras do governo; e a revisão de alíquotas no segmento de sucata, que é responsável por um terço do suprimento do metal no país. A diferença vem do metal primário - local e importado.

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