Reportagem do jornal "O Liberal" 19 de março de 2021
Repórter: Thiago Gomes
Nesta quinta-feira (18) os moradores da Vila Operária, em Ouro Preto, se reuniram com a Hindalco para discutir a relação entre a comunidade, o poder público e a fábrica da empresa na região e também o novo sistema de abastecimento de gás da Hindalco que será instalado na Av. Américo Renê Gianetti. A reunião foi convocada pelo presidente interino da Associação Comunitária da Vila Operária, Luiz Carlos Teixeira, também representando a Força Associativa dos Moradores de Ouro Preto
O novo empreendimento consiste em dois tanques de armazenamento de gás GLP, com cerca de 4 mil quilos de gás, conforme apresentado em relatório técnico da Secretaria de Meio Ambiente. Os tanques serão instalados no local onde ficava a antiga fábrica de pastas da Alcan. A engenheira de meio ambiente da Hindalco, Kézia Nascimento, explicou que a empresa formalizou em dezembro de 2020 uma solicitação de declaração de conformidade para a implantação de sistema de abastecimento de gás das empilhadeiras da empresa.
De acordo com a engenheira: "Durante a reunião do Codema [Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental] foi feita uma solicitação que antes de passar por essa aprovação ou receber essa declaração de conformidade que esse projeto fosse apresentado à comunidade, considerando que durante a apresentação ficou em dúvida a questão do distanciamento e de segurança sobre o empreendimento".
O gás GLP, mais conhecido como PIT-STOP, é utilizado para o içamento e manuseio de "bags" com produtos e para transporte de peças. Esse manuseio seria realizado apenas nos limites internos da empresa, sem oferecer perigo para os transeuntes na região. A engenheira lembra que as empilhadeiras já estão em operação na empresa e que a implantação do gás GLP só melhoraria as medidas de segurança. As empilhadeiras são utilizadas para elevação de cargas com mais de uma tonelada e, ainda de acordo com Kézia, a forma mais segura de realizar a operação é com o gás.
A supervisora da área da segurança, Alessandra, ressaltou que todas as decisões são mediante testes: "A gente optou por essa empilhadeira por questões de segurança, tudo em quesito de segurança a gente testa, então a gente fez com a diesel, o último que a gente fez foi com a elétrica, no entanto não obtivemos sucesso e a gente viu um risco de tombamento do equipamento muito grande, então para segurança dos nossos colaboradores a gente utiliza desse modelo de combustível para empilhadeira".
Washington Leite, representante de negócios da Nacional Gás, empresa referência nesse tipo de operação, explicou que o GLP é o mais indicado para as empilhadeiras, não apenas pela eficiência mas também porque a queima do gás é completa, resultando em menos poluição que as outras opções, como o diesel. Considerando o perigo de manuseio do equipamento, a Nacional Gás realizará um treinamento com todos os profissionais ligados ao funcionamento do sistema.
Os dois maiores riscos são o de incêndio e de explosão, as medidas preventivas incluem a proibição de atividades que geram faíscas na área do equipamento, a disposição de extintores de incêndio, a ventilação do local do equipamento, processos que impedem o vazamento do gás, a capacitação dos profissionais de abastecimento do gás e o ligamento e desligamento dos equipamentos. Além disso, todos os equipamentos serão anti-centelhas.
De acordo com o parecer técnico da Secretaria de Meio Ambiente, o projeto está em conformidade com as leis de uso e ocupação do solo, afirma o documento: "Em análise da documentação apresentada pelo empreendedor, não foram observados impedimentos para emissão de certidão solicitada, considerando o zoneamento descrito pela lei complementar municipal".
Flávio Andrade, representante da FAMOP no Codema, afirmou que o relatório foi feito pelo técnico da prefeitura e que a Codema não aprovou. Ele explica que o Conselho Municipal de Desenvolvimento Ambiental é um grupo de pessoas que acompanha as questões ambientais. Por fim ele explicou: "Esse documento que foi elaborado pelo técnico, eu entendo que ele é falho, porque ele só fala o seguinte: não foram observados impedimentos para emissão da certidão. Isso pra mim é um linguajar técnico que é meio sabonete, com todo respeito aos técnicos. O técnico tem o poder de falar sim ou não e aqui não falou”.
Para Flávio, o documento não especifica diversas questões de segurança, como o que aconteceria com a população local caso houvesse um incêndio na fábrica. Ele destacou a existência da Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga nas proximidades, o que potencialmente colocaria mais de 500 alunos em situação de risco. Portanto, pede que o parecer da prefeitura seja mais cuidadoso. Em resposta, a comissão técnica da Hindalco afirmou que o local está numa distância segura e que eles prezam pela segurança dos funcionários e da população.
Expressando a preocupação dos moradores, André Lana disse que não é suficiente só as medidas de segurança e que: “A empresa precisa ter um tratamento diferenciado com a comunidade, porque nós estamos praticamente dentro da fábrica, a relação é muito próxima. Nós estamos expostos a riscos, os mesmos que os funcionários da fábricas estão expostos. Então não basta só seguir os indicadores legais, a gente quer mais do que isso, a gente quer um tratamento diferenciado em relação a nossa proximidade”.