"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Resgate do sonho de Dom Pedro II: Ouro Preto terá tratamento de água e esgoto!


Por André Lana

Em 2010 os professores Alberto Fonseca e José Francisco do Prado Filho, ambos da UFOP, publicaram um interessante artigo científico[1] sobre o sistema de águas e esgotos da imperial cidade de Ouro Preto implantado entre 1887 e 1890. Trata-se, segundo os autores, de “um dos primeiros e quiçá o mais moderno construído até então em solo nacional”. Iniciativa do Imperador Dom Pedro II. Ainda hoje há no Beco da Mãe Chica, na Barra, resquícios dos então inovadores tanques de desinfecção utilizados para o tratamento do esgoto naquela época.

Porém, o fim do regime imperial no país, o abandono da cidade com a mudança da capital para Belo Horizonte, o crescimento desordenado a partir da década de 1960 e, em especial, a mediocridade dos gestores públicos contemporâneos que passaram a tratar a água como moeda eleitoral, fizeram com que o sonhado sistema de águas e esgoto de Ouro Preto se perdesse por completo. A realidade hoje é de graves falhas no fornecimento de água potável, esgoto sem qualquer tratamento, rios e córregos insalubres e problemas de saúde pública comuns às comunidades mais pobres do planeta. Sem contar o constante mau cheiro e a desvalorização imobiliária que ele provoca em alguns bairros.

Com isso, da vanguarda no final do século XIX Ouro Preto passou atualmente à lanterna no ranking das cidades que possuem adequado saneamento básico. Enquanto ostenta o título de cidade Patrimônio Mundial da Humanidade, assiste quase todo seu esgoto ser lançado sem qualquer tratamento nos cursos d’água. Até mesmo a Universidade, exemplar em tantas áreas, despeja o esgoto do Campus diretamente no Rio Funil, que mais abaixo vira o Ribeirão do Carmo e corta a cidade de Mariana. A água potável, por consequência, fica cada vez mais rara e cara, ainda mais diante do grande desperdício de uma comunidade que não foi educada para economizar.

Mas uma nova quinada histórica se aproxima alimentando o velho sonho da cidade imperial. Enfrentando críticas e pressões de grupos político imediatistas, cujos interesses não passam das próximas eleições, a Prefeitura Municipal homologou na tarde dessa quinta-feira, dia 04 de julho de 2019, a licitação para concessão dos serviços de água e esgoto da cidade. Com um cronograma de investimentos claro para os próximos 35 anos, o projeto apresentado transformará a realidade do Município. Em parceria com a iniciativa privada a meta é levar aos ouro-pretanos água potável e tratamento de esgoto. Além dos benefícios diretos, como a disponibilização de ligações de água para todos, haverá certamente a redução de doenças transmitidas pela contaminação das águas e pelos mosquitos. Haverá ainda a ampliação de áreas de lazer às margens dos rios e córregos, que ficarão livres da sujeira. 

Obviamente a cobrança pelos serviços será feita e evitará desperdícios, mas é preciso destacar que haverá isenções àquelas famílias que não puderem pagar. A água é um bem valioso e o tratamento do esgoto um serviço essencial. Não há mais como ignorar isso e tentar enganar a população com ideias mirabolantes e falácias. Com seriedade, coragem e responsabilidade a Prefeitura parece, enfim, ter retomado o desejo dos antigos sanitaristas que sonharam viver numa cidade sadia. Só nos resta parabenizar, apoiar e torcer para dar tudo certo!

Crédito da foto: Ane Souz



[1] Em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702010000100004

Artigo originalmente publicado no Jornal "O Espeto", Ano XX, nº. 498, 1ª semana de julho de 2019. (disponível em: http://jornaloespeto.com.br/)


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