A cidade histórica, cabeceira de duas importantes bacias hidrográficas brasileiras, ainda sofre com o mau gerenciamento e a disposição incorreta dos seus resíduos sólidos
É por conta dessa condição natural que as chuvas que caem mais ao norte da majestosa Serra de Ouro Preto correm para o Rio das Velhas, principal afluente do Rio São Francisco e responsável por boa parte do abastecimento de água potável da região metropolitana de Belo Horizonte, enquanto as chuvas que caem mais ao sul da Serra vão para o Ribeirão do Carmo em Mariana e, logo em seguida, para o Rio Doce, responsável pelo abastecimento de várias cidades do centro-leste de Minas Gerais até o Espírito Santo.
Contudo, apesar de tamanha importância ambiental, até meados da década de 1990 o Município de Ouro Preto jogava sem qualquer controle todos os seus resíduos sólidos num “lixão” situado às margens da Rodovia Rodrigo Melo Franco de Andrade, quase sobre a divisa com Mariana. Diante de tamanha irregularidade, um grupo de ambientalistas denunciou o caso ao Ministério Público que, depois do devido processamento nos autos da Ação de Obrigação de Fazer nº. 0461.96.003580-0, conseguiu encerrar em definitivo a utilização daquele local.
Diferença entre Lixão e Aterro Sanitário - Fonte: https://www.ecotres.com.br/ |
Denúncias quanto às irregularidades são recorrentes, oriundas de cidadãos, ONGs e órgãos de fiscalização. A Câmara Municipal também já debateu diversas vezes o tema, como mostra, por exemplo, a matéria abaixo, do jornal “O Liberal” de 09/12/2016:
Jornal O Liberal de 09/12/2016, em http://antigo.jornaloliberal.net/noticia/vereador-denuncia-lixao-de-ouro-preto-ao-mp/ |
Fotos de 2017-2018 |
Paralelamente ao imbróglio da deposição final dos resíduos sólidos no aterro, o Município passou ainda por conturbadas contratações de empresas para coleta domiciliar do lixo. Entre 2011 e 2017, por exemplo, todas as tentativas de licitação foram frustradas, obrigando os gestores a sucessivas dispensas de licitação para contratações de no máximo 180 dias. Foram várias empresas nesse período e pelo menos duas Ações Civis Públicas por Improbidade Administrativa foram propostas contra Ângelo Oswaldo e José Leandro, prefeitos à época. Somente em dezembro de 2017, já sob a gestão de Júlio Pimenta, foi finalmente concluída com sucesso a licitação para contratação de uma empresa especializada, pelo prazo máximo legal de 60 meses.
Mas lamentavelmente, após tantas idas e vindas administrativas e judiciais, a atual realidade da coleta e deposição de lixo em Ouro Preto continua muito parecida com aquela denunciada no início dos anos de 1990. Segundo dados levantados pela Fundação Gorceix (2017, pag.5)2, atualmente são coletados e despejados na Rancharia cerca de 55 a 60 toneladas de lixo por dia, oriundos de uma população de aproximadamente 70 mil habitantes. E a despeito do que pensam e fazem os gestores da ocasião, todos esses resíduos continuam sendo gerados diariamente!
ATERRO SANITÁRIO OU LIXÃO?
Imagem extraída do folder de 1996 de divulgação da implantação do Aterro de Rancharia: havia a promessa de um grande empreendimento, que nunca se concretizou |
COLETA SELETIVA INCIPIENTE:
Website do programa "Ouro Preto Reclica": https://www.ouropreto.mg.gov.br/coleta-seletiva (acesso em 06/12/2021)
A PROMETIDA USINA DE BENEFICIAMENTO:
Dada a necessidade de ampliação de estudos, foi publicado o “Chamamento Público” nº. PMI0001-052017, visando o estabelecimento de Parceria Público-Privada para implantação de tal usina. Em consequência, a empresa Alfa Sigma Eficiência Ltda. foi autorizada a promover os estudos preliminares necessários à análise de viabilidade técnico-financeira. Contudo, tal projeto não avançou, sobretudo devido à falta de acordo com a Câmara Municipal quanto ao tamanho da área e as condições da cessão que seria feita à empresa.
PLANO INTERMUNICIPAL DE GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS:
Neste plano foram avaliados os diferentes tipos de resíduos sólidos, envolvendo redução de geração, reutilização e reciclagem, além das possibilidades de tratamento e disposição final. O plano também visou o planejamento de metas e ações para melhor e modernizar todo o sistema de gerenciamento de resíduos sólidos no território de atuação do Consórcio.
O PIGIRS foi elaborado de acordo com os quesitos legais, em especial a Política Nacional de Resíduos Sólidos - Lei Federal Nº 12.305/2010 e a Política Nacional de Saneamento Básico Lei Nº. 11.445/2007.
Porém, assim como todas as iniciativas anteriores, não passa de mais um documento sem reflexo prático em Ouro Preto (documentos disponíveis em: https://www.ouropreto.mg.gov.br/transparencia/pigirs).
Referências:
(1). Disponível em: https://www.hojeemdia.com.br/horizontes/ouro-preto-tem-90-dias-para-fechar-lix%C3%A3o-irregular-1.402519
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