"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

domingo, 28 de fevereiro de 2016

São Gonçalo do Rio Abaixo cria distrito, dá incentivos e espera atrair 21 empresas e evitar impacto vivido em Ouro Preto e Mariana

Fonte: Estado de Minas, 23/02/2016
por: Marinella Castro / Marta Vieira

São Gonçalo do Rio Abaixo – Distante 84 quilômetros de Belo Horizonte, São Gonçalo do Rio Abaixo, com seus 12 mil habitantes, respira no ritmo da mineradora Vale. Ao mesmo tempo que a cidade vê a economia girar, vive uma contagem regressiva. A expectativa é de que a atividade da mineradora continue dando fôlego para a arrecadação local por mais 30 anos. Mas e depois? Como as gerações futuras devem se sustentar?

A questão central nos municípios que têm alta dependência da renda e do emprego gerado por um único negócio ou empresa é o tema da terceira reportagem da série “Cidades dependentes”, que o Estado de Minas publica desde domingo. Ha iniciativas que tentam dar um passo adiante, na esperança de sair da sombra. Diversificar, no entanto, não é uma medida simples, e sim uma busca contra a tendência do capital, que tende a se concentrar.

Com o futuro de médio prazo ameaçando a sustentabilidade, São Gonçalo deu um passo importante para fugir de uma espécie de sina anunciada, que pode condenar a cidade ao abandono a médio prazo. Em 2010, o município criou um minidistrito industrial, que começou com 42 mil metros quadrados e em cinco anos já multiplicou a área, alcançando 211 mil metros. Na vizinhança, um segundo distrito foi implementado e tem o dobro do tamanho do primeiro empreendimento. A proposta é uma ação para tentar diversificar a economia local, drama que, em Minas, pode atingir cerca de 100 cidades, que vivem reféns de uma única atividade econômica.

Para atrair indústrias, a Prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo não economizou nos benefícios, oferecendo isenção de impostos, área por 30 anos e, no início do projeto, chega a fornecer também o galpão. Os benefícios fiscais valem por 10 anos. “Nossa perspectiva é de que 21 empresas se instalem em São Gonçalo, seis já estão funcionando e outras cinco vão ser inauguradas neste ano”, diz Breno Starling, secretário municipal de Desenvolvimento Econômico.

Em Mariana, onde a mineradora Samarco, que tem como acionistas a Vale e a anglo-australiana BHP, sustenta a receita do município, palco do maior desastre ambiental do país, a prefeitura corre contra o tempo, e tenta viabilizar opções à atividade. Um distrito industrial está na mira do município e também atividades de fomento ao empreendedorismo local. As medidas de médio prazo vão tentar fazer frente a situações como o drama vivenciado agora.

O fantasma da dependência, como um dominó, atinge o emprego, derruba as vendas do comércio e a prestação de serviços. No ano passado, a arrecadação prevista em R$ 330 milhões caiu para R$ 240 milhões com a derrubada dos preços do minério de ferro no mercado internacional. Neste ano, a perspectiva é de uma queda de outros 25% na receita do município, onde cerca de 90% do que entra no caixa estão ligados à Samarco.

Fábrica fechada Ouro Preto, que já tem sua receita baseada em mais fontes de arrecadação – além da mineração de ferro, conta com os serviços gerados em torno da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e o turismo –, enfrentou há dois anos o drama do desemprego, com o fechamento da fábrica de alumínio primário da Novelis, sucessora da Alcan. Os prédios que abrigaram a produção durante 80 anos e que mantinham, no fim de 2014, cerca de 800 empregos diretos e indiretos resistem ao tempo e animam representantes da Frente em Defesa de Ouro Preto envolvidos num projeto para dar destinação aos imóveis.

Segundo o diretor do sindicato local dos metalúrgicos, Roberto Wagner de Carvalho, ideia é adequar os galpões à implantação de pequenas empresas, formando uma espécie de arranjo produtivo de empreendedores. “Trabalhamos com a possibilidade de incentivar a economia criativa. Ouro Preto enfrenta a falta de empregos. Começamos a elaborar o projeto para uso das instalações industriais, que será apresentado ao governo estadual”, afirmou. A elaboração da proposta deverá se estender por cerca de seis meses.

Em janeiro do ano passado, a Novelis firmou acordo com o sindicato prevendo indenizações em valor aproximado de R$ 22,2 milhões aos trabalhadores. Como parte do acordo, a empresa anunciou que financiaria um estudo sobre as vocações da economia de Ouro Preto para servir como ponto de partida da atração de negócios.

Investimento Resultados surgem em São Gonçalo do Rio Abaixo. Instalada em uma área de 31 mil metros quadrados, a Citróleo, fábrica especializada em óleos essenciais, chegou à cidade em 2012, atraída pelos benefícios fiscais, pela oferta do terreno no Distrito Industrial 2, onde a planta foi instalada, e pela proximidade da candeia, principal matéria-prima. A empresa gera 47 empregos diretos, sendo 24 no município. O gerente-geral Michel Luis Pimenta conta que no período de três anos foram feitas três ampliações. “Começamos produzindo 500 quilos de óleo por mês, hoje são duas toneladas.” Segundo Pimenta, o que fez a empresa optar por São Gonçalo, entre outros três pontos que estavam sendo avaliados, foram os atrativos do distrito industrial.

Memória

Bairro fantasma


Como uma cidade-fantasma o Bairro de Saramenha em Ouro Preto abriga o que restou da fábrica de alumínio primário que funcionou no local durante 80 anos. Ao fim de 2014 empregava cerca de 350 trabalhadores do quadro direto e mantinha ao redor de 450 empregos em empresas prestadoras de serviços, na estimativa do sindicato local dos metalúrgicos. Sucessora da antiga Alcan, a multinacional Novelis, pertencente ao grupo indiano Aditya Birla, iniciou em dezembro de 2014 o processo de paralisação de fornos. Comunicado divulgado pela companhia em outubro daquele ano informou que a suspensão das atividades era irreversível, diante da crise que os fabricantes de alumínio primário enfrentavam, com baixa da produção devido aos altos custos, principalmente da energia elétrica, maior despesa nas fábricas. 

Esforço para fortalecer a cadeia setorial


Ciente do poder que a indústria tem de alavancar uma cadeia de fornecedores e prestadores de serviços, além do peso da atividade em pequenos municípios do interior, a Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) está trabalhando num programa para melhorar a capacidade desses setores considerados essenciais para o desenvolvimento regional. Outro ingrediente que não poderia ser esquecido é a crise da economia brasileira, com seus efeitos sobre a atividade. A proposta é fortalecer as indústrias que são importantes em cada região do estado, de acordo com Simone Porto Cavalcanti, gerente de Projetos Coletivos para a Indústria da Fiemg.

“Sem o olhar de que todos têm de ser iguais, trabalhamos no mapeamento da indústria em cada região, com ênfase na dinâmica do setor de atividade. Como dizia Guimarães Rosa, Minas são muitas”, afirma Simone Porto. Batizado de Programa de Competitividade Industrial Regional (PCIR), o projeto mapeou 21 setores que mais dinamizam as diversas regiões de Minas. Informações completas sobre esse mapeamento já estão disponíveis na internet num portal virtual do programa. Em março, a Fiemg vai entregar planos de desenvolvimento industrial em cada região.

Em São Gonçalo do Rio Abaixo, o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Breno Starling, espera que, dentro de dois anos, o distrito industrial da cidade já responda pela geração de 1 mil empregos em atividades que vão da construção civil à extração de óleo de candeia e fabricação de doces. Ele conta que o processo de atração das empresas é promissor, mas não tem sido fácil. A crise atropelou os projetos, atrasou investimentos e empresas, como a Petropasy, especializada em tubos para mineração, que chegaram a se instalar no local foram embora deixando para trás investimentos e desempregados.

A paulista Petropasy tinha como meta gerar 250 empregos, mas longe de atingir o objetivo, acabou deixando para trás 30 desempregados. A análise de investimentos e a contrapartida que as empresas têm para oferecer ao município é outro desafio da diversificação.

Organização Mariana tenta atuar em duas frentes. A primeira delas é por meio do fomento ao empreendedorismo local, na geração de renda. Duarte Junior, prefeito de Mariana diz que a saída para as cidades mineradoras é se organizar para se proteger de crises profundas. Um começo para Mariana pode ser o investimento em fábrica de materiais para construção, com a fabricação de 39 produtos a partir dos rejeitos da mineração. “O rompimento da barragem da Samarco nos machucou mas também nos ensinou que precisamos nos defender.” Mariana busca a médio prazo ter uma alternativa para sua economia. A tarefa não é fácil e o drama é vivenciado de Norte a Sul do estado. 

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Exportação brasileira de alumina sobe 3,5% em 2015


"Os embarques de alumina para o exterior ficaram praticamente estáveis em dezembro de 2015, de acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Um total de 699.456 toneladas foram exportados no último mês do ano passado, enquanto que 698.969 foram exportadas em dezembro de 2014. O país exportou 8,47 milhões de toneladas de alumina em 2015."

Fonte: http://www.noticiasdemineracao.com/storyview.asp?storyID=826959871&section=Economia&sectionsource=s1450688

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Reunião com moradores de Saramenha de Cima sobre a barragem do Marzagão

Aconteceu hoje, dia 04 de fevereiro de 2016, às 19 horas no Salão Comunitário de Saramenha de Cima, uma reunião entre representantes da Hindalco e moradores. O objetivo era conversar sobre a barragem do Marzagão. Estive lá convidado pela Presidente da Associação de Moradores.

Apesar de ser uma quinta-feira véspera de carnaval, com blocos já desfilando na cidade, o público presente superou as minhas expectativas, sobretudo porque ficou evidente a preocupação das pessoas com o tema.

Em síntese, depois de uma interessante apresentação técnica seguida do debate com a plateia, posso inferir o seguinte:

1. A barragem do Marzagão está sob a responsabilidade técnica da Hindalco, que tem feito o devido monitoramento, controle e manutenção;

2. Não há iminente risco de acidente como ocorreu com a Samarco em Mariana, segundo nos relatou o técnico responsável, haja vista os rigorosos controles que são feitos;

3. Não há um plano de emergência para salvaguardar as comunidade à jusante, ou seja, aquelas potencialmente atingidas por um eventual rompimento. Questionada, a empresa reiterou o controle que mantém sobre a barragem e considerou bastante improvável qualquer tipo de rompimento, o que dispensaria tal plano. Mas digo: ainda que remoto, há o risco! Isso é da natureza do empreendimento. Ignorá-lo pode ser uma falha de impossível reparação. Ao final, pressionados, acabaram falando que em virtude do que ocorreu em Mariana certamente haverá uma "evolução" normativa que obrigará a elaboração do plano.

4. Não ficou claro o futuro da barragem. Foi sinalizado que a empresa está desenvolvendo um estudo técnico para descartar os seus rejeitos de forma seca, sem água, o que dispensaria o uso da barragem. Porém, isso ainda é uma ideia em desenvolvimento, não uma decisão. Por outro lado, se esquivaram de responder sobre um eventual novo alteamento da barragem, que segundo eles também dependeria de estudos e aprovações pelos órgãos de controle ambiental. Sai de lá sem saber o que pretendem fazer quando se esgotar a atual capacidade de armazenamento da barragem.

5. O discurso sobre empregos gerados no âmbito local continua presente como uma forma de intimidar as pessoas e minimizar críticas e questionamentos mais duros. Em outras palavras, a velha proposta de ignore sua saúde e corra os meus riscos em troca de um subemprego ainda é a tônica dessas reuniões.

Por fim, a pérola da noite: perguntados por mim sobre a propriedade da barragem (registro imobiliário), a resposta foi: "não sei". Fato é que a barragem era da Alcan que depois a vendeu para a Novelis. Esta, por sua vez, transferiu alguns imóveis para a Hindalco, compartilhou o uso de outros e mantém mais alguns. Há ainda rumores de que aquelas terras foram vendidas para a Vale. Enfim, se é certo que a Hindalco detém a posse, ainda não está claro de quem é a propriedade. O mais curioso é que esse "não sei" partiu do técnico responsável pela barragem que disse conhecê-la desde a sua construção. Certamente é a pessoa que cuida, inclusive, dos documentos para o licenciamento ambiental. Soou, portanto, extremamente estranha a curta resposta que recebi.

Enfim, fico pensando...