"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Reunião com moradores de Saramenha de Cima sobre a barragem do Marzagão

Aconteceu hoje, dia 04 de fevereiro de 2016, às 19 horas no Salão Comunitário de Saramenha de Cima, uma reunião entre representantes da Hindalco e moradores. O objetivo era conversar sobre a barragem do Marzagão. Estive lá convidado pela Presidente da Associação de Moradores.

Apesar de ser uma quinta-feira véspera de carnaval, com blocos já desfilando na cidade, o público presente superou as minhas expectativas, sobretudo porque ficou evidente a preocupação das pessoas com o tema.

Em síntese, depois de uma interessante apresentação técnica seguida do debate com a plateia, posso inferir o seguinte:

1. A barragem do Marzagão está sob a responsabilidade técnica da Hindalco, que tem feito o devido monitoramento, controle e manutenção;

2. Não há iminente risco de acidente como ocorreu com a Samarco em Mariana, segundo nos relatou o técnico responsável, haja vista os rigorosos controles que são feitos;

3. Não há um plano de emergência para salvaguardar as comunidade à jusante, ou seja, aquelas potencialmente atingidas por um eventual rompimento. Questionada, a empresa reiterou o controle que mantém sobre a barragem e considerou bastante improvável qualquer tipo de rompimento, o que dispensaria tal plano. Mas digo: ainda que remoto, há o risco! Isso é da natureza do empreendimento. Ignorá-lo pode ser uma falha de impossível reparação. Ao final, pressionados, acabaram falando que em virtude do que ocorreu em Mariana certamente haverá uma "evolução" normativa que obrigará a elaboração do plano.

4. Não ficou claro o futuro da barragem. Foi sinalizado que a empresa está desenvolvendo um estudo técnico para descartar os seus rejeitos de forma seca, sem água, o que dispensaria o uso da barragem. Porém, isso ainda é uma ideia em desenvolvimento, não uma decisão. Por outro lado, se esquivaram de responder sobre um eventual novo alteamento da barragem, que segundo eles também dependeria de estudos e aprovações pelos órgãos de controle ambiental. Sai de lá sem saber o que pretendem fazer quando se esgotar a atual capacidade de armazenamento da barragem.

5. O discurso sobre empregos gerados no âmbito local continua presente como uma forma de intimidar as pessoas e minimizar críticas e questionamentos mais duros. Em outras palavras, a velha proposta de ignore sua saúde e corra os meus riscos em troca de um subemprego ainda é a tônica dessas reuniões.

Por fim, a pérola da noite: perguntados por mim sobre a propriedade da barragem (registro imobiliário), a resposta foi: "não sei". Fato é que a barragem era da Alcan que depois a vendeu para a Novelis. Esta, por sua vez, transferiu alguns imóveis para a Hindalco, compartilhou o uso de outros e mantém mais alguns. Há ainda rumores de que aquelas terras foram vendidas para a Vale. Enfim, se é certo que a Hindalco detém a posse, ainda não está claro de quem é a propriedade. O mais curioso é que esse "não sei" partiu do técnico responsável pela barragem que disse conhecê-la desde a sua construção. Certamente é a pessoa que cuida, inclusive, dos documentos para o licenciamento ambiental. Soou, portanto, extremamente estranha a curta resposta que recebi.

Enfim, fico pensando...



Um comentário:

  1. Não há um plano de emergência para salvaguardar as comunidade à jusante, ou seja, aquelas potencialmente atingidas por um eventual rompimento. Questionada, a empresa reiterou o controle que mantém sobre a barragem e considerou bastante improvável qualquer tipo de rompimento, o que dispensaria tal plano. Mas digo: ainda que remoto, há o risco! Isso é da natureza do empreendimento. Ignorá-lo pode ser uma falha de impossível reparação. Ao final, pressionados, acabaram falando que em virtude do que ocorreu em Mariana certamente haverá uma "evolução" normativa que obrigará a elaboração do plano.

    Isso é um escárnio com a população, bastante improvável qualquer rompimento? é como se esse sujeito pudesse garantir que não vai morrer amanhã.
    Absurdo

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