"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A Vila Operária, por Kátia Campos

O texto a seguir, elaborado pela historiadora e demógrafa ouropretana Kátia Maria Nunes Campos, está juntado às fls. 759 a 785 do Inquérito Civil Público autuado sob o número MPMG-0461.14.000509-5, da Promotoria de Justiça de Ouro Preto (clique aqui e leia):

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"A VILA OPERÁRIA 

Uma rara exceção foi a Vila Operária, construída pelo primeiro diretor, Dr. Américo René Gianetti, nas décadas de 1930-1940, totalizando menos de 100 casas e alojamentos de solteiros. Parte dessas edificações foi alienada pela concessionária da época (ALCAN) às famílias de operários, com a expressa autorização da Municipalidade, como titular e senhora dos terrenos, que expediu os títulos de domínio para registro de escrituras em cartório. Entretanto, a fábrica alcançou um número de empregados superior a 2.000 pessoas, sem contar empreiteiros, sem que houvesse expansão dos esforços de minimizar a responsabilidade social da empresa, aproveitando os terrenos cedidos. 

Cumpre observar que a Vila dos Operários foi construída em encosta íngreme e fronteira à fábrica, em local insalubre, recebendo por décadas, o impacto da fumaça fétida, poeiras e os poluentes deletérios decorrentes das atividades da fábrica, antes e depois das legislações ambientais. Uma fotografia da Vila Operária, datada de cerca de 1940 a 1950 demonstra claramente a má escolha de sua localização e as condições desfavoráveis suportadas pelas famílias moradoras. Algumas casas encontram-se a poucos metros de um precipício. 

Figura 1 - Linha férrea nos fundos da fábrica. Ao fundo, a Vila Operária

A localização da Vila Operária tão próxima das instalações obedece a uma mentalidade da época, que favorecia o controle social sobre a vida privada dos operários que, além da esperada "gratidão" pela moradia fornecida pela "generosidade" da empresa, ainda eram mantidos sob a vigilância atenta de seus empregadores. 

Na década de 1970, na contramão da preocupação com os problemas fundiários e no auge de movimento migratório desencadeado pela expansão da fábrica e instalação da nova fábrica de cabos, uma rua inteira ladeada por moradias destinadas a operários foi demolida, dando lugar a um estacionamento, na atual Avenida Simão Lacerda, em frente ao campo de futebol. A empresa, uma vez mais, manteve suas terras desimpedidas, recorrendo à prefeitura para doar terrenos adicionais para a construção de novas moradias populares, com financiamento da Caixa Econômica. 

Não conhecemos estudos que analisem os efeitos dessa poluição na saúde dos moradores e nos operários da fábrica.  Meu primo José Eustáquio Guedes, aluno dessa escola e morador a menos de 50 metros da escola, faleceu em meados da década de 1950, vitima de câncer na garganta. Meu tio Vasco Aguiar Nunes, químico prático da empresa, também faleceu de câncer na garganta, na década de 1970. Não sabemos se houve relação do desenvolvimento da enfermidade e as condições ambientais vigentes na fábrica e na sede do município, devido à falta de estudos conhecidos pertinentes. 

Figura 2 - Alunos da Escola Municipal René Gianetti (sic) [o correto é Tomás Antônio Gonzaga], na estrada da Vila Operária. A insalubridade vem afetando inclusive os alunos da escola, construída na entrada da Vila dos Operários, que conviviam inescapavelmente com a pesada poluição, conforme se vê nessa fotografia de alunos do início da década de 1960, no pátio da escola. Há notícias de um estudo que teria sido encomendado ao Dr. José Pedro pela Alcan, mas os resultados e o laudo não teriam sido divulgados. (A informação me foi dada pela Dra. Sylvia Martinez, filha do referido médico). 

Em outros casos, como na rua Felinto Elísio Nunes, os operário adquiriam lotes à Empresa, com títulos de domínio igualmente confirmados, pelo Município, sem ressarcimento ao erário. Encontra-se, na Prefeitura, uma lista e o histórico dessas aquisições."

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O texto acima, apesar de se referir mais às décadas iniciais da fábrica, é plenamente aplicável aos atuais moradores da Vila Operária, cujos impactos do processo fabril ainda estão presentes, inclusive na Escola Tomás Antônio Gonzaga, que funciona no mesmo lugar, há poucos metros de distância dos tanques de soda cáustica e de gás natural da Actech. 

A fábrica e sua poluição vista da Vila Operária, em 06/06/2023

Foto tirada em 24/06/2022 a partir do bairro Tavares, demonstrando como o fumaça da fábrica é direcionada para a Vila Operária e o Campus da UFOP

Foto tirada em 11/05/2022 a partir do Campus da UFOP, demonstrando a fumaça da Actech contida sobre a Vila Operária pela inversão térmica.

A fábrica vista da Vila Operária, em 18/07/2014 - no canto inferior direito, o pátio da Creche Colmeia.


A fábrica vista da Vila Operária, em 16/01/2014 - fumaça preta intensa

Quadra da Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga
coberta por pó branco de alumina, em 15/07/2015

 

Rio Funil colorido por rejeitos de bauxita, em 12/05/2014 

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Nexus, na Rancharia, obtém licenciamento ambiental

Conforme Parecer nº 144/FEAM/URA CM - CAT/2023, emitido no processo 2090.01.0007081/2023-68 (clique aqui e veja), a empresa Nexus Ligas – Unidade Ouro Preto, localizada na Rancharia, pertinho de Saramenha, obteve o CERTIFICADO Nº 3162 LICENCIAMENTO AMBIENTAL CONCOMITANTE (clique aqui e veja), pelo qual foi autorizada a funcionar até 23/11/2033. 

Do referido parecer cabe destacar a seguinte afirmação: "conclui-se que a empresa vem cumprindo de forma regular as condicionantes impostas quando da concessão da sua REVLO". Na fábrica de alumina de Saramenha, noutro giro, as condicionantes são sistematicamente desrespeitadas e de brinde o Governo do Estado lhes dá mais um TAC permitindo o funcionamento precário...


A insustentável leveza do alumínio: impactos socioambientais da inserção do Brasil no mercado mundial de alumínio primário

Compartilho com os leitores do Blog um interessante artigo sobre a produção de alumínio primário no Brasil, desde a extração da bauxita, que "defende a tese de que a inserção do Brasil no mercado global do alumínio faz parte de uma nova configuração da Divisão Internacional do Trabalho (DIT), cujas atividades econômicas poluentes e altamente dependentes de energia, como o caso deste metal, vêm se deslocando para nações periféricas ou emergentes, onde muitas vezes as legislações são menos austeras, do mesmo modo como são menos influentes os movimentos ambientalistas e as reivindicações das populações atingidas nos territórios afetados em seus direitos à saúde, ao ambiente saudável e à cultura"

"Insumos, Emissões e Efeito Estufa

A redução da bauxita em alumina e, posteriormente, a transformação desta em alumínio, consome um volume considerável de insumos. Somente para a produção de alumina, no ano de 2009, foram consumidos 950,7 mil ton. de óleo combustível; 816,8 mil ton. de soda cáustica; e 128,7 mil ton. de cal. Para a produção de alumínio, em 2009, além de 23.713,8 GWh de energia elétrica e de 2.880,6 mil ton. de alumina, foram necessários 532,5 mil ton. de coque; 166,2 mil ton. de piche; 32,8 mil ton. de fluoreto; e 2,4 mil ton. de criolita, todos insumos que contêm inúmeras substâncias tóxicas8.

A dimensão das poluições atmosféricas originárias das indústrias produtoras de alumínio pode ser melhor dimensionada ao analisarmos alguns relatórios produzidos pelas secretarias e órgãos estaduais de meio ambiente. Em Minas Gerais foi elaborado, com base nos indicadores de 2005, um inventário relativo às emissões de gases de efeito estufa, segundo as atividades socioeconômicas. No setor de processos industriais, a indústria do alumínio participou com 13% do total de emissão de gases, ficando atrás, apenas, das indústrias de cimento (43,9%) e cal (38,2%)39. Já no inventário de emissões de fontes fixas de CO², elaborado pela CETESB40, em 2008, as indústrias de minerais não metálicos (nesta tipologia estavam incluídos além da produção de alumínio primário, fornos de cal, cimento e produção de vidro) no estado de São Paulo, ocupavam a segunda posição como emissores de CO², contribuindo com 26,4% do total estadual. Já no ranking das empresas que mais emitiram CO² em 2008, a CBA se apresentou na sexta colocação. Outros inventários de outros estados da federação também apontam o potencial emissor de CO² das indústrias de alumínio primário: na Bahia, em inventário produzido pela Secretaria de Meio Ambiente41, referente ao ano de 2008, a indústria de alumínio primário emitiu 6,5% do total de CO², se posicionando na sexta colocação. No estado do Rio de Janeiro, a indústria do alumínio, ranqueou-se na quinta colocação em volume de emissões totais de gases do efeito estufa em 2005 e em primeiro lugar, entre as indústrias, em emissões de metano e óxido nitroso42. Nos Estados Unidos, dois fatos relacionados às emissões de gases tóxicos pelas indústrias de alumínio chamam a atenção: um diz respeito à subnotificação das emissões por parte das empresas que são captados pelos inventários da EPA; outro sugere a diminuição das emissões devido ao deslocamento das empresas para o exterior"

Fonte: HENRIQUES, A. B., & Porto, M. F. S.. (2013). A insustentável leveza do alumínio: impactos socioambientais da inserção do Brasil no mercado mundial de alumínio primário. Ciência & Saúde Coletiva, 18(11), 3223–3234. https://doi.org/10.1590/S1413-81232013001100013



quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Médico recomenda distanciamento de criança asmática da fábrica de Saramenha

 Eis a recomendação médica à uma criança moradora da Vila Operária:

"A criança acima é portadora de asma brônquica, tendo sido atendida por mim no início do mês corrente, em uma crise grave após aspirar fumaça emitida por uma fábrica próxima à sua residência. É salutar que a criança permaneça evitando contato com esses desencadeantes, pois do contrário, o risco de crise será grande com a sua condição de saúde podendo ser afetada".  



sexta-feira, 29 de setembro de 2023

ChatGPT, "quais os danos ambientais da produção de alumina?"

Perguntei ao ChatGPT: quais os danos ambientais da produção de alumina? Vejam a resposta:

"A produção de alumina, que é o estágio intermediário na fabricação de alumínio, pode causar diversos danos ambientais. Esses danos podem variar dependendo dos métodos de produção utilizados, mas geralmente incluem:

1. Emissões de Gases de Efeito Estufa: A produção de alumina envolve o processamento da bauxita, um minério de alumínio, que geralmente requer o uso de energia intensiva, como a queima de combustíveis fósseis. Isso pode resultar na emissão de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas.

2. Desmatamento e Degradação Ambiental: A mineração de bauxita para a produção de alumina muitas vezes envolve a remoção de vegetação natural e pode levar ao desmatamento e à degradação de ecossistemas locais. Isso pode afetar a biodiversidade e causar problemas como a erosão do solo.

3. Poluição da Água: A extração e o processamento da bauxita podem gerar resíduos contendo produtos químicos tóxicos, como ácido sulfúrico e soda cáustica. Se esses resíduos não forem adequadamente gerenciados, eles podem contaminar rios, lagos e aquíferos próximos, prejudicando a qualidade da água e a vida aquática.

4. Consumo de Energia: A produção de alumina consome grandes quantidades de energia, principalmente na etapa de refino. Isso pode resultar em uma pegada de carbono significativa, especialmente se a energia for gerada a partir de fontes não renováveis.

5. Resíduos Tóxicos: A produção de alumina gera resíduos sólidos e líquidos, alguns dos quais podem ser tóxicos. O manejo inadequado desses resíduos pode causar contaminação do solo e da água.

6. Consumo de Água: A produção de alumina também requer grandes volumes de água para processos de lavagem e refino. Em regiões onde a água é escassa, isso pode representar um desafio significativo para a disponibilidade de recursos hídricos locais.

7. Impactos sobre Comunidades Locais: A mineração e a produção de alumina podem ter impactos sociais significativos sobre as comunidades locais, incluindo o deslocamento de pessoas, a interrupção de modos de vida tradicionais e problemas de saúde relacionados à exposição a produtos químicos tóxicos.

É importante destacar que muitas empresas do setor de alumínio têm adotado práticas mais sustentáveis e estão trabalhando para reduzir esses impactos ambientais por meio de medidas como o uso de energia renovável, reciclagem de alumínio e melhores práticas de gestão de resíduos. No entanto, ainda é essencial monitorar de perto a indústria e pressionar por padrões mais rigorosos de sustentabilidade e responsabilidade ambiental."




Actech continua buscando licenciamento ambiental



segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Moradores de Saramenha reclamam da queda de minério das cargas dos caminhões

Matéria da rádio Itatiaia disponível em: https://www.itatiaia.com.br/editorias/ouropreto/2023/08/04/moradores-de-saramenha-reclamam-da-queda-de-minerio-das-cargas-dos-caminhoes 


Empresa Actech responde às acusações e moradores insistem nos problemas reais

Por Matheus Renovato  - Ouro Preto

04/08/2023 às 09:31


A Rádio Itatiaia Ouro Preto recebeu diversas reclamações de moradores do bairro Saramenha em relação à frequente queda de minério das cargas dos caminhões que prestam serviço para a empresa Actech e transitam pela região. Segundo os relatos, essa situação tem causado uma considerável quantidade de poeira nas vias públicas, que acaba infiltrando-se nas residências, gerando transtornos relacionados à limpeza. A falta recorrente de água no bairro torna ainda mais difícil a tarefa de remover os resíduos.

Diante dessa situação, a empresa Actech foi procurada para esclarecer as medidas que serão adotadas para resolver essa questão. Em nota, a empresa afirmou ter conhecimento da falta de água no bairro, mas negou as acusações de poeira nas ruas com base em imagens fornecidas pelo vice-presidente da Associação dos Bairros, que mostram as ruas aparentemente limpas e a ausência de denúncias em seu portal.

Entretanto, os moradores reforçam a veracidade dos problemas enfrentados em relação à poeira do minério. Apesar das imagens apresentadas, muitos residentes do bairro continuam relatando questões reais relacionadas à poeira que resulta da queda de minério das cargas dos caminhões que circulam pela região.

A situação permanece em destaque, e a comunidade espera que as devidas providências sejam tomadas para solucionar esse incômodo, garantindo assim um ambiente mais limpo e saudável para todos os moradores do bairro Saramenha.



quarta-feira, 5 de julho de 2023

Pó, pó e mais pó... a rotina na Vila Operária

 A foto abaixo, tirada na garagem da minha casa (que é coberta!) exibe a rotina de limpeza de quem mora na Vila Operária. 


Foto tirada em 05/07/2023, na Vila Operária

terça-feira, 6 de junho de 2023

Revisão do Plano Diretor tem início com audiência pública desastrosa

 

"O plano diretor é um instrumento da política urbana instituído pela Constituição Federal de 1988, que o define como 'instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana', e é regulamentado pelo Estatuto da Cidade, pelo Código Florestal e pela Lei de Parcelamento do Solo Urbano. A Constituição atribui aos municípios, através do plano diretor, a obrigação de definir a função social da propriedade e ainda a delimitação e fiscalização das áreas subutilizadas, sujeitando-as ao parcelamento ou edificação compulsórios, ou ainda, à desapropriação com pagamento de títulos e cobrança de IPTU progressivo no tempo". (InfoEscola)


Na noite de ontem, dia 05/06/2023, teve início em Ouro Preto a revisão do Plano Diretor. O que deveria ter sido uma cerimonia de esperança aos ouro-pretanos foi, na minha opinião, o puro simbolismo do que é a política local: um pomposo desastre! 

De início a população que lotou o teatro do Centro de Artes e Convenções da UFOP teve que suportar cerca de uma hora de atraso para o início do evento. 

Quando foi enfim iniciada a cerimonia, a mesa diretiva, com exceção do Du do Veloso, representante da FAMOP, desviou-se da realidade e ocupou suas falas com auto-elogios ou com elogios ao Prefeito. Não foi um ato da sociedade, mas um ato político partidário do atual mandatário do executivo municipal. E nem vou gastar tempo aqui desmentindo as abobrinhas ditas por ele...

Ainda sobre a constituição da mesa, registro aqui o protesto feito pelo Prof. Pedro Peixe, do IFMG-OP, sobre a ausência de representantes daquela instituição, que mantém hoje cursos superiores de geografia e restauro, com elevada quantidade de alunos ouro-pretanos, que podem contribuir muito com os trabalhos. 

Logo após a mesa se desfez e deu lugar às falas dos técnicos estrangeiros que conduzirão os trabalhos nos próximo meses - aí a tragédia se aprofundou! a primeira a falar gastou bons minutos elogiando o currículo do Prefeito e enaltecendo a amizade que mantém com ele há vários anos. Em seguida, com certo ar de superioridade, falou sobre suas experiências na região metropolitana de BH e em outras cidades em que acompanhou revisões do mesmo tipo. Sobre Ouro Preto? ela ateve-se às questões de interesse do centro histórico, num sinal claro de que o foco continuando sendo no patrimônio da humanidade e não na cidade real dos ouro-pretanos. 

As falas seguintes, apesar de mais palatáveis, continuaram muito distantes das expectativas do público presente e sempre vinculando a identidade da cidade apenas ao patrimônio histórico. Não se falou em moradia, mobilidade urbana, regularização e fiscalização com foco nos nossos problemas reais. Noutro giro, ficou claro que o que vem pela frente, mais um vez, terá como resultado prático limitar o uso da cidade. 

Ao final, já passando das 22 horas, abriu-se a fala para pouquíssimas perguntas que revelaram o óbvio: o povo está saturado da pompa da elite belorizontina e quer resultados já! E quando o debate começou a gerar constrangimentos à equipe da prefeitura, uma notória correligionária do Prefeito tomou o microfone e repreendeu uma cidadã que falava. Foi o fim jocoso de uma noite vexatória...

Nas palavras do meu amigo Flávio Andrade, "companheirada, como não se deve fazer uma audiência pública. Foi a aula de hoje. Ouro Preto não é pra principiantes". 

A torcida é para que esse desastroso início não seja o norte dos trabalhos. A despeito da condução elitista, o povo deu o recado claro e vai assumir o protagonismo. 

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Feito o relato supra, não posso deixar de expor aqui alguns dos meus pensamentos sobre o tema:

  • As leis em Ouro Preto são mortas pela ausência de efetiva fiscalização derivada do clientelismo político. Enquanto os iluminados se ocupam em impedir que os ouro-pretanos estraguem o centro histórico, nas periferias tudo acontece livremente! construções irregulares, sobre passeios, rampas de garagem no meio da rua, espaços público apropriados por particulares, fábrica de alumina funcionando sem licenciamento ambiental, mineradora destruindo distritos, ocupações em áreas de risco... enfim, um festival de bagunças! e nossos vereadores ocupam a maior parte do seu tempo intervindo a favor dos infratores em troca de votos e apoios. Nem mesmo o código de posturas de 1980 é cumprido, quanto mais um plano diretor! sem ações educativas associadas será só mais um texto legal usado seletivamente. 
  • O Prefeito Ângelo sabe bem das dificuldades! não sem razão deixa as revisões normativas para o seu último ano de mandato, de modo que recaia sobre o sucessor o ônus da aplicação. Foi assim em 1996, 2011 e será agora. A estratégia dele é se manter como herói normativo e crítico da prática. Falta-lhe compromisso real com o povo da cidade que fica aqui o tempo todo e não apenas quando tem mandato. 
  • As discussões em Ouro Preto não podem ser protocolares, pois há aqui lideranças capacitadas para o debate. O problema é que tais lideranças são estigmatizadas e tratadas pelos gestores como adversários, numa vil análise partidária. É preciso que os gestores entendam a legitimidade das críticas e a importância de todos os partícipes, sob pena de travar os debates por vaidades e preconceitos. É nessa toada que a lei do papel não chega nas comunidades. 

Vamos em frente, o trabalho é longo!

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Dia mundial do meio ambiente: princípios básicos desrespeitados!

 


Em Saramenha tais princípios ambientais são expressamente desrespeitados! por aqui prevalece os princípios do poder econômico e da covardia. 

 


sexta-feira, 19 de maio de 2023

Ouro Preto: a contaminação que vem com a neblina

Clique AQUI e leia a publicação original em "Ciência Hoje", de maio de 2022 [CH 387]

A neblina que encanta os turistas e moradores da cidade histórica mineira, além da água, pode incluir elementos químicos potencialmente poluentes, mas seu monitoramento regular pode contribuir para melhor conhecimento sobre a poluição





As montanhas sempre foram consideradas áreas livres de poluição. Ou, pelo menos, mais protegidas. Entretanto, estudos realizados nos Alpes europeus e nos Andes têm revelado surpreendente presença de poluentes, incluindo chumbo, mercúrio, hidrocarbonetos e resíduos de pesticidas. Os principais vetores de transporte de substâncias contaminantes para as montanhas, segundo pesquisas, são as correntes atmosféricas, a chuva e a neblina. Mas, afinal, o que é a neblina e o que ela tem carregado, sobretudo para a cidade histórica de Ouro Preto?

A neblina se forma através da condensação da água em minúsculas gotas, podendo ser considerada uma nuvem em baixa altitude (próxima do solo). Para os moradores da cidade mineira de Ouro Preto, localizada a cerca de 1100 metros acima do nível do mar, a neblina já faz parte do cotidiano, mas segue encantando turistas. Recentemente, a dissertação de mestrado intitulada Quando ar e água se encontram: uma avaliação do transporte e deposição de poluentes via neblina em ecossistemas aquáticos do quadrilátero ferrífero (MG), de Natacha Jordânia da Silva Alves, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia de Biomas Tropicais da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que contou com apoio da FAPEMIG e do CNPq, estudou o que poderia estar presente na bruma corriqueira para alguns e fascinante para outros.

Coleta de nuvens

Com a instalação de coletores passivos (Figura 1), foram obtidas cerca de 50 amostras de água de neblina em áreas próximas a Ouro Preto, em altitudes superiores a 1200 metros acima do nível do mar, dentro de duas unidades de conservação: o Parque Estadual do Itacolomi (PEIT) e o Parque Estadual de Ouro Branco (PESOB).


Figura 1. (A) Neblina durante um dos dias de coleta no Parque Estadual do Itacolomi. (B) Coletores instalados no Parque. CRÉDITO: NATACHA J. S. ALVES


Nas amostras analisadas, identificou-se a presença de poluentes como alumínio, bário, cálcio, estrôncio, enxofre, ferro, manganês, magnésio, potássio e zinco, além de nitrogênio e fósforo, em concentrações que podem ser consideradas muito altas, segundo a legislação brasileira – em alguns casos, acima de 1000 µg/L, como o cálcio e o enxofre (Figura 2).



Figura 2. Elementos mais abundantes detectados nas amostras de neblina obtidas no Parque Estadual do Itacolomi (A e B) e no Parque Estadual de Ouro Branco (C e D). Em amarelo os valores de nitrogênio (N) e fósforo (P). As barras representam o desvio padrão.


No caso do cálcio, as altas concentrações podem, por exemplo, acelerar o processo de salinização da água, limitando o consumo humano em razão do sabor salobro, além de outros efeitos adversos para organismos aquáticos. Já o enxofre pode alterar substancialmente o pH da água, causando a chamada “chuva ácida”. Interessante notar que as amostras coletadas no PEIT e no PESOB mostraram uma diferença na concentração de poluentes, indicando que, mesmo em áreas próximas, a diferença de altitude e a frequência dos eventos de neblina podem influenciar consideravelmente a concentração e o transporte de poluentes nessa via úmida.

A presença de fósforo e nitrogênio nas amostras de neblina merece atenção especial, uma vez que esses elementos são os principais responsáveis pelo fenômeno da eutrofização, que é a entrada excessiva de nutrientes no corpo d’água, podendo causar o crescimento abundante de microalgas e plantas aquáticas, o que pode limitar o uso múltiplo das águas. Vale ainda destacar que as amostras do estudo foram obtidas em áreas que abrigam duas das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras: a bacia do Rio Doce e a bacia do Rio São Francisco.

Importância da neblina

Muitos pesquisadores consideram a neblina um importante vetor de água para as áreas de grandes altitudes, estimando que quase 30% de toda a água disponível para animais e plantas de montanhas é disponibilizada por ela. E isso constitui outro alvo de preocupação, pois os poluentes identificados podem sofrer transformação química devido ao longo tempo em que permanecem no interior das gotículas de neblina.

Em síntese, os resultados do estudo em Ouro preto servem de alerta para que o monitoramento das águas inclua a neblina como fonte potencial de poluição atmosférica para as áreas de nascentes. O impacto em longo prazo da entrada de poluentes sobre os ecossistemas aquáticos altitudinais e sobre a biota aquática também deve merecer maior atenção das agências regulamentadoras e dos projetos de pesquisa.


Natacha Jordânia da Silva Alves
Edissa Emi Cortez Silva
Gleice Souza Santos
Eneida Eskinazi Sant’Anna
Departamento de Biodiversidade, Evolução e Meio Ambiente
Universidade Federal de Ouro Preto

segunda-feira, 8 de maio de 2023

Na periferia do glamour colonial, Actech funciona normalmente sem licenciamento

Enquanto os moradores da Vila Operária convivem com o pó de alumina sobre suas casas, com a barulheira de sirenes, caldeiras e caminhões madrugada adentro, com as irritações, sinusites, rinites e afins... a nossa vizinha sucata fabril dos anos 40 parece não se preocupar com as "formalidades" da legislação ambiental. Se há algum documento que ampare o seu funcionamento está escondido, pois consultando os sistemas oficiais disponíveis à população e o diário oficial do Estado não há nada!! Prevalece público, por enquanto, o indeferimento da licença ambiental e a expiração da vigência do famigerado TAC. 

Mas onde estão as autoridades do executivo, do legislativo, da PMMG-Ambiental e do MP que permitem essa poluição escancarada há menos de 01 km do badalado Centro Histórico de Ouro Preto? nós aqui da periferia somos tratados como descartáveis desde sempre, mas as belas igrejas coloniais não são capazes de despertar preocupação em tais autoridades? 

No atual Estado de Mínimo Gerais não há regras para o setor minero-siderúrgico!

Aumentem o volume e ouçam com atenção o vídeo abaixo. Assim são as madrugadas na Vila Operária:




Há saúde física e mental que aguente isso diariamente?

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Filme "Arábia" disponível gratuitamente

 


Arábia

Brasil | 2017 | 96 min | Ficção | 16 anos

Direção e roteiro: Affonso Uchôa, João Dumans

Direção de Fotografia: Leonardo Feliciano 

Direção de Arte: Priscila Amoni

Elenco: Aristides de Sousa, Murilo Caliari, Glaucia Vandeveld, Renato Novaes 


Filme disponível até 13/05/2023: CLIQUE AQUI E ASSISTA!

quarta-feira, 22 de março de 2023

Funcionamento clandestino, manutenção preventiva ou modernização?

No início de novembro de 2022 a empresa Actech publicou uma nota sobre a interrupção da produção de alumina na fábrica de Saramenha. Sem muito detalhamento, apenas informou a paralisação de "parte" das atividades, o que na prática gerou a demissão de dezenas de trabalhadores. 

Paralelamente, é bom lembrar, a fábrica estava (e ainda está!) sem o devido licenciamento ambiental junto ao órgão licenciador do Estado, razão pela qual o seu funcionamento calcava-se apenas num Termo de Ajustamento de Conduta  - TAC, muito questionável, por sinal. 

Embora a sinalização em dezembro fosse para o fim de tudo, supreendentemente a empresa conseguiu recentemente o licenciamento de uma estação de armazenamento de gás natural para instalação na antiga fábrica de pasta, bem ao lado da Escola Tomás Antônio Gonzaga e da Vila Operária. O equipamento autorizado, cuja projeção segue abaixo, terá capacidade para 72.000 m3 de gás. Ao olhos de um leigo, como eu, parece ser uma verdadeira bomba!



O dia-a-dia tem sido ainda mais revelador, pois apesar da ausência de licenciamento ambiental e da nota de paralisação de "parte" das atividades, observa-se claramente a contínua contratação de funcionários em reposição aos que foram demitidos no final de 2022 e, em especial, grande trânsito de carretas entrando e saindo da fábrica. As chaminés soltam fumaça normalmente, tal como sempre foram!

Esse cenário pouco transparente e passível de muitas perguntas é o "puro suco" do que sempre foi a relação da fábrica de Saramenha com os governos e a população. Ninguém sabe o que está ocorrendo, se é uma produção clandestina, uma mera manutenção ou a modernização das instalações. Fato é que a cidade está totalmente alheia ao que acontece atrás daqueles antigos muros de tijolinhos. 

Como eu disse e reafirmo, em Ouro Preto pode tudo! as leis aqui não são as mesmas do restante do país. Salve-se quem puder!!!

Excerto do Diário Oficial de Minas Gerais


segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Achem os erros! Carnaval pode tudo?

Foto do show da banda "Candonguêro" em 12/02/2023 no carnaval oficial de Ouro Preto sob o patrocínio da Actech


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Retomada ampliando o foco

Após muita reflexão e aconselhamentos de amigos, resolvi retomar o Blog. A ideia agora é ampliar as discussões sobre meio ambiente e a cidade como um todo e não apenas Saramenha. Meio ambiente é tudo que nos cerca!

"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

Atualizações em breve!