O texto a seguir, elaborado pela historiadora e demógrafa ouropretana Kátia Maria Nunes Campos, está juntado às fls. 759 a 785 do Inquérito Civil Público autuado sob o número MPMG-0461.14.000509-5, da Promotoria de Justiça de Ouro Preto (clique aqui e leia):
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"A VILA OPERÁRIA
Uma rara exceção foi a Vila Operária, construída pelo primeiro diretor, Dr. Américo René Gianetti, nas décadas de 1930-1940, totalizando menos de 100 casas e alojamentos de solteiros. Parte dessas edificações foi alienada pela concessionária da época (ALCAN) às famílias de operários, com a expressa autorização da Municipalidade, como titular e senhora dos terrenos, que expediu os títulos de domínio para registro de escrituras em cartório. Entretanto, a fábrica alcançou um número de empregados superior a 2.000 pessoas, sem contar empreiteiros, sem que houvesse expansão dos esforços de minimizar a responsabilidade social da empresa, aproveitando os terrenos cedidos.
Cumpre observar que a Vila dos Operários foi construída em encosta íngreme e fronteira à fábrica, em local insalubre, recebendo por décadas, o impacto da fumaça fétida, poeiras e os poluentes deletérios decorrentes das atividades da fábrica, antes e depois das legislações ambientais. Uma fotografia da Vila Operária, datada de cerca de 1940 a 1950 demonstra claramente a má escolha de sua localização e as condições desfavoráveis suportadas pelas famílias moradoras. Algumas casas encontram-se a poucos metros de um precipício.
Figura 1 - Linha férrea nos fundos da fábrica. Ao fundo, a Vila Operária |
A localização da Vila Operária tão próxima das instalações obedece a uma mentalidade da época, que favorecia o controle social sobre a vida privada dos operários que, além da esperada "gratidão" pela moradia fornecida pela "generosidade" da empresa, ainda eram mantidos sob a vigilância atenta de seus empregadores.
Na década de 1970, na contramão da preocupação com os problemas fundiários e no auge de movimento migratório desencadeado pela expansão da fábrica e instalação da nova fábrica de cabos, uma rua inteira ladeada por moradias destinadas a operários foi demolida, dando lugar a um estacionamento, na atual Avenida Simão Lacerda, em frente ao campo de futebol. A empresa, uma vez mais, manteve suas terras desimpedidas, recorrendo à prefeitura para doar terrenos adicionais para a construção de novas moradias populares, com financiamento da Caixa Econômica.
Não conhecemos estudos que analisem os efeitos dessa poluição na saúde dos moradores e nos operários da fábrica. Meu primo José Eustáquio Guedes, aluno dessa escola e morador a menos de 50 metros da escola, faleceu em meados da década de 1950, vitima de câncer na garganta. Meu tio Vasco Aguiar Nunes, químico prático da empresa, também faleceu de câncer na garganta, na década de 1970. Não sabemos se houve relação do desenvolvimento da enfermidade e as condições ambientais vigentes na fábrica e na sede do município, devido à falta de estudos conhecidos pertinentes.
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O texto acima, apesar de se referir mais às décadas iniciais da fábrica, é plenamente aplicável aos atuais moradores da Vila Operária, cujos impactos do processo fabril ainda estão presentes, inclusive na Escola Tomás Antônio Gonzaga, que funciona no mesmo lugar, há poucos metros de distância dos tanques de soda cáustica e de gás natural da Actech.
A fábrica e sua poluição vista da Vila Operária, em 06/06/2023 |
Foto tirada em 24/06/2022 a partir do bairro Tavares, demonstrando como o fumaça da fábrica é direcionada para a Vila Operária e o Campus da UFOP |
Foto tirada em 11/05/2022 a partir do Campus da UFOP, demonstrando a fumaça da Actech contida sobre a Vila Operária pela inversão térmica. |
A fábrica vista da Vila Operária, em 18/07/2014 - no canto inferior direito, o pátio da Creche Colmeia. |
A fábrica vista da Vila Operária, em 16/01/2014 - fumaça preta intensa |
Quadra da Escola Municipal Tomás Antônio Gonzaga coberta por pó branco de alumina, em 15/07/2015 |
Rio Funil colorido por rejeitos de bauxita, em 12/05/2014 |