Grandes consumidores veem alternativa no país devido às altas tarifas cobradas no Brasil; Abrace alerta para desindustrialização
Por Ivonete Dainese
O Brasil, segundo levantamento feito
por entidades ligadas ao setor industrial, como a Conferação Nacional
da Indústria (CNI), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp), associações de classe e sindicatos, vem passando por um
processo grave de desindustrialização. Um dos fatores que estavam
provocando esse processo era o crescimento econômico acelerado da China.
Porém, um novo movimento na indústria brasileira está contribuindo para
aumentar a desindustrialização: o alto preço da energia elétrica.
Segundo a Associação Brasileira de
Grandes Consumidores de Energia Industriais de Energia e Consumidores
Livres (Abrace), grandes empresas brasileiras estão seguindo,
principalmente, para o Paraguai e o Uruguai para instalar novas plantas
se beneficiando de tarifas mais baratas nesses países.
"O foco no país vizinho (Paraguai) se dá
porque a energia elétrica gerada por Itaipu é mais barata. O segmento
de alumínio, por exemplo, já tem a Rio Tinto Alcan (que migrou). Sabemos
também de uma outra de celulose que está seguindo para o Uruguai", diz o
assessor da diretoria da Abrace, Fernando Umbria.
Para a Câmara de Comércio Brasil -
Paraguai, existe uma lista de empresas brasileiras que devem seguir para
o país vizinho em 2012. "Nos últimos oito anos, uma série de fatores
contribuiu para que as indústrias seguissem para lá, principalmente
aquelas que têm a energia elétrica como matéria prima", comenta o
presidente da Câmara, Eulógio Kñonez.
O crescente movimento já contribuiu para
alavancar o Produto Interno Bruto (PIB) paraguaio, que cresceu 15% no
ano passado. "A meta do governo é a de atingir os 10% em 2012", aponta
Kñonez. Nesse sentido, o paraguaio destaca que será realizado um evento
em São Paulo nesta terça-feira (25/10), o Paraguay Invest. O objetivo é
apresentar as oportunidades de investimento no outro lado da fronteira e
atrair o interesse de companhias brasileiras de diversos setores.
Segundo o presidente da Câmara, durante o
evento serão adiantadas informações sobre um plano da Ande, estatal de
energia do País, que "vai estudar uma redução ainda maior no preço da
energia para as empresas que seguirem para o Paraguai". "O país já ocupa
o terceiro lugar entre os maiores produtores de soja do Mercosul e o
quinto no setor agropenegócios. Queremos crescer, fortalecer o Mercosul
e afastar as indústrias do avanço da China", completa.
Pelo Tratado de Itaipu, firmado em 1973,
cada um dos dois países tem direito a usar 50% da energia gerada pela
hidrelétrica - a maior do mundo em geração. Como o Paraguai utiliza
apenas 5% da energia gerada, o restante é vendido ao Brasil. Itaipu, com
potência de 14 mil MW, responde por 19% da energia consumida no País e a
91% do consumo paraguaio
Mais migrações
Segundo Fernando Umbria, da Abrace, na lista de avaliação sobre a possibilidade de seguir para o Paraguai está a Novelis, uma das principais companhias mundiais de produtos transformados de alumínio. Recentemente, a companhia encerrou as atividades na Bahia justamente por conta do preço elevado da energia. O valor pago ficou superior ao custo da produção.
A Companhia Brasileira de Alumínio
(CBA), também estuda a saída do Brasil para Trinidad Tobango. "Para se
ter noção de que a desindustrialização está ocorrendo, em 2009 o Brasil
importou 17 mil toneladas de alumínio . Em 2010, esse número chegou a 77
mil e para esse ano, o volume deverá ser ainda maior. Outro dado é que
nos últimos 25 anos, não se instala no Brasil nenhuma indústria desse
segmento", lista Umbria.
Recentemente, foi aprovada a revisão do
Tratado de Itaipu que determinou aumento da taxa anual de cessão paga
pelo Brasil ao Paraguai - o salto foi de US$ 120 milhões para US$ 360
milhões."Acompanhamos essa revisão com muita preocupação. E o que
estamos acompanhando é que o governo não deu muita consideração ao tema.
Outras indústrias que consomem muita energia, com toda certeza, devem
seguir o mesmo caminho (rumo ao país vizinho)", finaliza Umbria.
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