"a questão ambiental deve ser trabalhada não como resultante de um relacionamento entre homens e a natureza, mas como uma faceta das relações entre os homens, isto é, como um objeto econômico, político e cultural". (MORAES, 2002)

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A história do FIM. Ou ainda não?



Somos testemunhas de um visível e inegável declínio da fábrica de alumínio de Saramenha nos últimos anos.

Em matéria publicada no jornal “Hoje em Dia” de 26 de maio de 2013, o então diretor de operações da Novelis, afirmou que “Desde 1985, não há nenhum investimento em alumínio primário por nenhuma fábrica” (leia aqui).

O declínio da produção de alumínio aqui em Ouro Preto parece ter começado no início dos anos de 1990, quando uma onda de demissões varreu Saramenha. No ano de 1994, a Revista Veja publicou uma reportagem intitulada “Parece Desmanche” (leia aqui), cuja foto da apresentação era da nossa fábrica de alumínio. Em tal reportagem foi apontada a falta de investimentos, obsolescência de equipamentos e, ainda, o início, naquele ano, de uma estratégia da empresa Alcan para se desfazer da fábrica nos 15 anos seguintes, o que de fato ocorreu.

Os anos foram passando e a fábrica foi encolhendo e trocando de donos (leia aqui).

Uma grande baixa ocorreu em 2009, quando foi fechada a fábrica de alumina, ocasião em que foram anunciadas as demissões de cerca de 290 trabalhadores, entre próprios e terceirizados (leia aqui).

Logo depois uma nova legislação ambiental estabeleceu o prazo de validade para a produção de alumínio primário em Saramenha: até 2021. Tal norma impôs regras mais rígidas e que somente seriam alcançadas aqui com muito investimento (leia aqui)

Em abril de 2012 a Novelis sinalizou o seu desinteresse pela produção de alumínio primário ao desativar uma fábrica no Canadá (leia aqui).

No ano seguinte, em janeiro de 2013, mais de uma centena de demissões aconteceu em razão do fechamento da Redução II em Ouro Preto (leia aqui), cujo funcionamento fora condicionado pelo órgão de controle ambiental, a SUPRAM, a uma série de investimentos por parte da empresa (leia aqui). Entre investir e fechar, a segunda opção foi a escolhida. Naquele momento o nosso blog já cobrava uma postura mais clara sobre o futuro: a distorção de informações era visível (leia aqui).

Em janeiro de 2013 assistimos a divulgação truncada de que uma “nova” fábrica iria se instalar em Saramenha. Pouquíssimas informações foram divulgadas na imprensa local e nenhum projeto consistente foi apresentado à comunidade. Naquele momento falaram em “nova indústria”, mas tudo não passou da simples religação da fábrica de alumina desativada em 2009 pelo mesmo grupo empresarial dono da Novelis (leia aqui).

E o discurso sobre a criação de novos empregos foi colocado de modo a constranger os moradores vizinhos a se calarem. Foi como uma chantagem, do tipo “calem-se e suportem todo o inconveniente da produção nessa fábrica obsoleta, senão serão vocês os culpados pelo desemprego”.

Ora, uma coisa deve ser dita e repetida: o nosso blog nunca foi contra a fábrica, os empregos e a arrecadação de impostos, mas a favor que tudo isso ocorra dentro da mais absoluta legalidade, técnica e, sobretudo, respeito a nós, moradores vizinhos (leia aqui).

Mas o abandono de Saramenha já era visível (leia aqui). O abandono da fábrica também (leia aqui). E os problemas ambientais e trabalhistas foram se acumulando (leia aqui).

O mercado mundial de alumínio, por sua vez, foi mandando recados (leia aqui). Alguns muito diretos (leia aqui). Não foi sem razão que em abril de 2014 a própria Novelis sinalizou o fechamento da fábrica de Saramenha (leia aqui). Mas antes disso, obviamente, era preciso se desfazer daquilo que ainda possuía grande valor de mercado: a energia elétrica! E assim foi feito no início de 2014 com a venda das usinas hidrelétricas (leia aqui). O mesmo ocorreu com os ativos de mineração (leia aqui).

No início de 2014, diante de tantas evidências, o Sindicato dos Metalúrgicos denunciou o que estava por vir: o fechamento da Novelis em Ouro Preto (leia aqui).

Em outubro de 2014 o FIM foi anunciado (leia aqui).

E diante de toda essa história fica uma pergunta: o que foi feito pelas autoridades públicas para garantir aos trabalhadores e à população melhores condições socioambientais? Eu respondo: nada, infelizmente. 


 FIM??? não meus caros, ainda não. Estamos falando o fim da produção de alumínio, mas a empresa Novelis ainda tem muito o que fazer aqui em Ouro Preto. Além do apoio aos trabalhadores demitidos, ainda tem responsabilidades sobre os seus ativos e sobre as áreas contaminadas que exigem constante monitoramento ambiental, como o Marzagão, Morro do Minério, Barcelos, Lago do Azedo e Panificadora. E sobre isso ainda aguardamos uma manifestação oficial da empresa.

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