A fabricante de alumínio Novelis anunciou nesta quinta-feira (16), que
fechará até o fim do ano sua unidade de Ouro Preto (MG), demitindo 350
funcionários. O movimento é mais um baque para a indústria brasileira do
alumínio, que enfrenta uma forte crise. De acordo com a Associação
Brasileira do Alumínio (Abal), a produção brasileira de alumínio
primário - matéria-prima para a indústria de transformação - ficou em
69,6 mil toneladas, queda de 37% em relação ao mesmo período de 2013.
De
acordo com o presidente executivo da associação, Milton Rêgo, a
disparada nos preços da energia no País teve efeito direto na
competitividade do setor de alumínio. Desde 2008, segundo ele, a
produção do setor não para de cair. Nos últimos cinco anos, houve cortes
de produção em empresas que têm como sócias gigantes como Alcoa, BHP
Billiton e Votorantim Metais.
Apesar de o problema já se
arrastar desde 2008, Rêgo diz que 2014 será 'um ano para esquecer' para a
indústria de alumínio. A previsão é que o País feche com produção de 95
mil toneladas, 27% a menos do que no ano passado. De janeiro a agosto, a
redução acumulada já é de 23%. 'Pela primeira vez em muito tempo, o
Brasil será importador líquido de alumínio', afirma o presidente da
Abal.
No caso da Novelis, o anúncio do encerramento da fábrica
reflete um nível de capacidade ociosa que não parava de aumentar.
Segundo dados da associação, nos últimos cinco anos, a Novelis reduziu
quase à metade sua produção. Em 2008, 50 mil toneladas de alumínio
saíram dos fornos da empresa; no ano passado, a produção foi de 29 mil
toneladas.
Em comunicado oficial, a Novelis - que fatura US$ 10
bilhões ao ano e faz parte do gigante indiano Aditya Birla - afirmou que
a crise do setor teve peso na decisão. 'Essa decisão foi tomada em
função de questões estruturais que afetam toda a indústria de alumínio
primário no Brasil, impactando o custo da operação', disse Tadeu
Nardocci, presidente da empresa na América do Sul. A fábrica de Ouro
Preto foi inaugurada em 1934 e pertence à Novelis em 1950.
A
empresa também afirmou que o encerramento das atividades da planta
reflete uma estratégia global de usar uma quantidade maior de alumínio
reciclado. Segundo a Abal, a tendência da reciclagem do produto é de
crescimento. Dados da associação mostram que 35,2% do consumo doméstico
de alumínio do País já é abastecido pelo produto reciclado - acima da
média global de 29%.
A queda na produção de alumínio primário é
compensada, em parte, pela expansão da indústria de transformação do
produto. Isso tem evitado, segundo o presidente executivo da associação,
a queda do número de empregos na cadeia de alumínio. Em 2008, o setor
gerava 28,1 mil empregos; em 2013, eram 28,9 mil postos de trabalho. A
Novelis manterá suas atividades de laminação em Pindamonhangaba e Santo
André (SP).
Em alguns casos, as empresas que reduziram ou
encerraram suas atividades de produção de alumínio estão sobrevivendo
vendendo energia no mercado livre. Isso porque os preços dispararam
desde o ano passado por causa da seca, que compromete os reservatórios
das hidrelétricas. Muitas companhias do setor têm contratos de energia
de longo prazo, a preços antigos, e muito vantajosos em relação aos
praticados atualmente.
Numa situação normal, com reservatórios
cheios e chuvas na média, o preço do mercado à vista pode ficar abaixo
de R$ 100 o megawatt/hora (MWh). Em janeiro de 2012, por exemplo, estava
em R$ 12. Nesta semana, o valor chegou a R$ 822 o MWh. Para quem
comprou na baixa, vale vender energia e paralisar a atividade produtiva.
Para
o presidente da Abal, essa vantagem nos contratos de energia não é
vista de maneira positiva pelo setor. 'O negócio das empresas é
alumínio, e não energia. Esses contratos (a preços baixos) um dia vão
vencer.
(Porto Alegre, segunda-feira, 20 de outubro de 2014. Atualizado às 09h23. Jornal do Comércio. Matéria disponível em: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=176670)
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